quinta-feira, 7 de abril de 2011

Performance ES3



O segundo momento de criação, o primeiro de reunião do grupo de trabalho para a conjunção de suas experiências após três meses de oficinas, marcou o movimento de geração de uma performance coletiva. Procurei durante o período de oficinas pensar uma forma de trabalhar o texto dramatúrgico não a partir de temáticas, ou da construção dos personagens por vias secundárias para a introdução do texto, mas buscando perspectivas de concepção política da poética que constituía a obra Cleansed de Sarah Kane.
Assinalo aqui política como espaço que condiz aos princípios relacionais que se desenvolvem no contato entre sujeitos, entre sujeito e meio, e na própria configuração da subjetividade em si. Para além dos jargões complicados, a operação que procurei conduzir nas oficinas foi um espaço de experiência que buscava pensar o corpo em zonas sensíveis não familiares, trabalhando como metodologia com estruturas de alteração dos sentidos através do movimento, da tensão corporal, do acoplamento de objetos, dentre outros elementos.
Essa fase além de propiciar uma diversidade de sentidos e leituras a cada momento realizado, gerando um processo performativo de investigação corporal sugerido pela leitura do texto, serviu também o grupo de maneira mais fundamental, na constituição de um primeiro contato entre seus membros e na definição da relação entre todos.
A oportunidade de criação da performance era também um exercício para o grupo, uma espécie de saída para pesquisa de campo dos elementos que tínhamos até então encontrado e desenvolvido em sala de prática. Nessa fase o grupo se reuniu a mesa e discutiu, e discutiu, e discutiu, ad absurdum. Histórias começaram a surgir na discussão, sobre hospitais, experiências pessoais ou fatos ocorridos com sujeitos próximos, quase todas com um viés em comum que posteriormente identificamos: a exposição do doente no momento de sua morte. Nesse caso essa sentença expressa não apenas uma linha conceitual de criação de performance, mas também a exposição física nos corredores de hospital dos doentes terminais, a vida desnudada.
Criamos assim a estrutura da performance apresentada em junho de 2010, que em outros posts discutirei com mais profundidade, mas aqui farei parecer um passo sem esforço me detendo apenas a descrever para finalizar este texto: cinco doentes em cena, quatro deitados em suas camas de grama e barro, com uma placa de gesso, lápide, fralda, prontuário, repousada sobre seus ventres, três fios pendem das varas de luz em direção a cada um, um microfone, uma lâmpada, uma bolsa de soro. No centro do espaço acompanhamos o quinto, de pé, enfaixado e engessado, sobre um campo de telhas de barro, movendo-se com um impacto sonoro da microfonia dos demais, duas televisões mostram olhos em close-up num vídeo, no qual em suas legendas visualizamos o texto. Um sexto performer opera estímulos sonoros, mediando e compondo o enlace e desenlace destas relações. Na sala de espera (fora e dentro do espaço), os visitantes aguardam um a um as suas entradas.

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