Mais uma vez que vos fala é o seu emissário potiguar André Bezerra (Coletivo ES3), no 8º Encuentro do Instituto Hemisférico de Performance e Política, congresso internacional que reúne performers de toda a América e de países da Europa e Ásia, que esse ano é sediado na cidade de São Paulo.
No segundo dia uma programação mais branda, com intervalos mais amplos, talvez já dando o suspiro antes da intensa programação do terceiro dia.
O dia foi iniciado por uma conferência do diretor do Teatro da Vertigem, Antônio Araújo, que em sua fala apresentou o processo criativo que levou ao novo trabalho do grupo: Bom Retiro 958 Metros. Na fala foram destacados pontos mais concentrados a percepção de site specific desenvolvida pelo novo trabalho, que altera a poética de construção da Trilogia Bíblica do grupo e conduz a alguns índices já presentes no seu espetáculo BR-3, como a criação de trajetórias pela cidade e a composição das cenas no espaço urbano.
Em seguida a palavra foi passada ao segundo conferencista do dia, realizada pelo artista peruano Miguel Rubio, tratando da questão da teatralidade expandida e da performatividade em trabalhos no espaço urbano desenvolvidos e criados pelo Grupo Cultural Yuyachkani. A perspectiva construída pelo palestrante fala de ações de protesto e de agregamento cidadão através da composição de trabalhos que discutem a relação entre corpo e lugar, em seus aspectos políticos. Esse traçado foi construído traçando paralelos com a ocupação de espaços públicos realizados por artistas peruanos na década de 1970, assim como trabalhos mais recentes, como o excelente "La Última Reina" de Elizabeth Lino.
No período da tarde foi apresentada uma conferência de Diana Taylor, fundadora do Instituto Hemisférico e uma de suas principais atuantes no campo da performance na América Latina. A conferência voltada a reflexão sobre a política das paixões como ato de uma potência que reúne multidões e cria novas possibilidades de vida coletiva no mundo, como no caso das grandes coletividades que tomaram a rua no México, no ocaso de corrupção do processo de eleição em 2012, ou no caso do movimento Occupy, em Wall Street e no mundo.
Questões bastante interessantes foram levantadas a respeito desse espaço propiciado na criação dessas coletividades, e como, no caso do Occupy, elas podem produzir uma massa negativa de afirmação de valores tradicionais e preconceituosos, dada a heterogeneidade da qual se compõe seu grupo. Exemplo dessa situação seriam os altos índices de denúncias de estupro, homofobia e racismo que o movimento registrou durante as ocupações do Ocuppy, por parte dos próprios manifestantes.
Já no período da noite, foi realizada a primeira apresentação do TRANSNOCHEO, no espaço da SP Escola de Teatro. Me deterei mais as instalações e exposições nas postagens que se seguirão. Procurarei agora me focar mais nas performances.
Apresentaram seus trabalhos na noite o performer dominicano Nícolas Dumit Estevez, com "The More I Dance...", explorando o aspecto duracional de sua performance e se valendo de músicas típicas de sua terra que tocam em looping para dançar ininterruptamente até a total exaustão do performer.
Questões como a própria ideia de coreografia e relação do corpo que dança com o tempo das ações que realiza, além de imputar um olhar reflexivo também no espaço da imigração, e exotização do estrangeiro.
Nadia Granados (COL) apresentou sua performance em seguida, trazendo para discussão o espaço da pornografia associado as práticas de sexualidades e de liberdade no mundo, não apenas do sujeito, mas de um corpo coletivo coagido. O trabalho se chama "La fulminante", nele a performer, simula sexo oral no microfone, masturba-se e desenvolve outras ações enquanto na frente de sua calcinha trás um pequeno monitor com dizeres referentes aos modos como esse e outros corpos são fetichizados por uma dinâmica de poder e enquadrados a um recorte pornográfico, congelado numa imagem fissurada de seu próprio recalque.
Apresentaram-se ainda os seguintes performers: Magno Assis (BRA) com "Capítulo 1"; Beatrice Glow (EUA); Bel Borba & BurtSun (BRA) com "Diário"; Claudia Algara (MEX) com CLIP.
Muito bom André! Gostei bastante do relato, deu pra entender um pouco do que acontece aí. Parabéns pela democratização da informação!!!
ResponderExcluirAbraço
Lenilton Teixeira