sábado, 12 de janeiro de 2013

Coletivo ES3 no Primeiro dia do 8° Encuentro do Instituto Hemisférico e Performance e Política

Olá a todos, aqui quem fala é André Bezerra, representante do Coletivo ES3 no 8° Encontro do Instituo Hemisférico de Performance e Política, congresso internacional que reúne performers de toda a América e de países da Europa e Ásia, que esse ano é sediado na cidade de São Paulo.
No primeiro dia, o credenciamento e junto a ele a percepção de um evento muito bem organizado e com toda a estrutura que necessita para colocar em prática o potencial do pesquisadores, artistas e ativistas que reúne.
No SESC Vila Mariana as primeiras performance que abriam o evento começaram a ser realizadas, a primeira delas, numa aproximação entre dança e performance realizada pela performer Abigail Levine (EUA), "Quedas Lentas" consistiu numa ação com duração de cem minutos que compunha junto a parede de um prédio uma experimentação entre movimento e tempo. 
Utilizando fitas adesivas desenroladas por seus movimentos de queda de caixotes sobre os quais estavam colocadas, as performers cronometravam, através de um timer, intervalos de tempo diferentes (10, 20, 30 e 40 minutos) que produziriam diferentes traçados com a fita sobre uma das paredes do prédio.
Há no trabalho uma forte relação entre o tempo cronológico do movimento e a percepção em performance de um tempo subjetivado da movimentação, colocados em jogo através da ação das entas quedas cronometradas das performances.




Em seguida tivemos a performance "B-Sides" do grupo The Movement Party (EUA). A performance, novamente trabalhada com elementos do campo da dança, estabelecia uma conexão com o público através de instruções dispostas sobre o chão em folhas impressas e ao seu lado um reprodutor de áudio com fones de ouvido. Ao se aproximar o espectador lê as indicações em uma das três folhas espalhadas pelo espaço do pátio do SESC Vila Mariana, pega o aparelho e inicia uma dança própria a partir do que ouve e das indicações que leu. As duas performers do grupo realizam então uma partitura própria acompanhando o espectador em sua travessia/coreografia, e logo depois passam a mimetizar a movimentação criada por ele.




Concomitante a performance do The Movement Party, tivemos o trabalho de L. M. Bogad (EUA), "Papelada - Departamento dos Sonhos, Esperanças e Medos". Com formato simples a proposta do performer consistia em colocar-se sentado diante de uma mesa comum sobre a qual estavam dispostas canetas papéis e carimbos. Uma cadeira era disposta então para que qualquer espectador pudesse se aproximar e sentar sobre ela atendendo ao curioso chamado de uma das três placas, que poderiam dizer "write your fear", ou "write your dream", e or fim "write you hope".
Após a escrita do esectador o performer procedia uma série de de ações que remetem a burocracia departamental referida no título, como carimbar, demarcar, retirar um canhoto desenhado por ele no papel, desenhar endereçando o documento, e devolvê-lo então ao espectador.



Tivemos então mais uma realização do novo projeto coordenado e dirigido por Marcos Bulhões e Marcelo Denny, junto ao Desvio Coletivo e Coletivo PI, a performance cegos. Partindo do SESC Vila Mariana, os performers com o corpo, roupas e acessórios completamente cobertos por argila, caminharam lentamente pela chuva em direção as ruas da cidade. A ação em sua movimentação muito contida e nos aspectos reforçados pela cobertura da argila, produzem uma impressão de imagem petrificada dos performers.
O trabalho que já invadiu a sede da Petrobras, e fechou as portas do BNDES, infelizmente teve curta duração pelas ruas devido a intensidade da chuva.






Aconteceram ainda mas duas curtas performances, da brasileira Andrea Soares, com "Descarrego", e a performance "Abundante" de Will MacAdams (EUA). Na primeira a referência enfática ao movimento com origem nas danças de origem africana, além dos elementos de vestimenta, davam voz a uma ação que se desenvolvia no campo de uma prática ritualística e autobiográfica. Na segunda, MacAdams trabalha principalmente com a narrativa de uma história, sua história, fazendo também o espaço autobiográfico, mas desta vez através da palavra, da contação de história, especificamente uma história que se refere a passagem da vida adolescente para a adulta, e a relação do corpo com o espaço onde trabalha, onde cultiva, o solo que toca, o devir que semeia.



Houve então pausa nas apresentações de performances e se deu início a abertura oficial do evento no Teatro SESC Vila Mariana, após realizadas as introduções protocolares pela coordenadora local do evento Prof.ª Dr.ª Elisabeth Silva Lopes (USP), e a Prof. PhD. Diana Taylor (NYU). Destaque nesse momento a premiação ao trabalho de Vivian Martínez nos campos do teatro e performatividade, a para o Grupo Cultural Yuyachkani, completando quarenta anos de teatro e ativismo em sua trajetória na Colômbia.
Prosseguiu-se então para a primeira palestra, realizada por Suely Rolnik, intitulada "O retorno do corpo-que-sabe". Com uma abordagem sensível que procura investigar desde o ritual antropofágico entre os índios tupinambás e os modos como, primeiramente o colonialismo europeu e na contemporaneidade o capitalismo neo-liberal, retiraram do corpo a possibilidade de estar aberto ao outro, como interrogação, numa relação anti-edipiana, que fuja da limitação provocada pela deia de identidade e entre no campo do diálogo aberto e permissível de afecções e afectos que estão nos processos de subjetivação.



Após o fim da palestra tivemos nova apresentação de performance, dessa vez realizada no pátio do SESC pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, consagrada companhia teatral brasileira advinda da região sul do país. No trabalho "Onde? Ação N° 2", composto por um grande coro que narra um poema sobre os desaparecidos políticos, se sobressai a questão da ditadura brasileira através daqueles que esta torturou e "fez sumir". 
Após  a narrativa do poema, as performers caminhavam pelo espaço deixando trilhas de pequenos papéis que aos montes se espalhavam pelo chão. Nos papéis silhuetas, semelhantes a uma foto 3x4, e dentro das silhuetas o nome de um desaparecido político da ditadura e atrás a história de seu desaparecimento.



Para finalizar esse primeiro dia de relatos do Encuentro deixo vocês com uma belíssima citação da palestra realizada por Suely Rolnik, ela é do filósofo Eduardo Viveiros de Castro.




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