terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Esforços Políticos

E nunca vi um corpo sem cérebro fatigar-se por causa de telas inertes.
(Antonin Artaud - Van Gogh, o suicidado pela sociedade)

Há algum tempo confesso que as alcunhas ditas "políticas" não me chamam atenção, falta às realidades, como aos sujeitos, a performance em direção ao limite, falta aos sujeitos o esforço de incorporar além do clicar no polegar virado para o céu do "livro de caras", falta incorporar além do "re-burburinhar" do twitter. Quando me volto como performer a questões como a denominada "Primavera Árabe", ou mesmo ao grande esforço do "WikiLeaks", penso em tantos corpos reunidos, uma força tremenda de estar lado a lado, de acompanhar e de promover um encontro para além do choro cansativo de um esforço tão franzino de repetir cansativos jargões em caixas de entrada. Existem figuras fantásticas, avatares da rebelião nas redes sociais, que contudo são nada além do reflexo de suas bundas há muito fixado permanentemente sobre a cadeira do computador, que são um discurso sem corpo (sem que haja nisso nada de contestador), que são o retrato de uma mediocridade chorona.
Não quero dizer que os protestos não valem a pena, quero dizer que poucos de fato se levantam para buscar o caroço desse fruto virtual, pouco saem da letargia para buscar outras formas, para fazer perguntas ou protestos mais vivos, fica assim o enunciado performativo, sem a performance, uma blablação sem fim, sem diálogo, sem encontro.



Não há muito disse diante de muitos colegas, a questão não é apontar a merda que todos vêem, mas estando exposta e nos cercando por completo essa merda, resta a questão mais viva: "o que fazemos com ela?". Existe um grande escrito do filósofo Peter Pàl Pelbart que se refere a potência da questão trazida pelo sacrifício do homem bomba, o corpo que diante de uma realidade inaceitável, escolhe desconstruir a própria vida, o próprio corpo como espaço dessa vida, para marcá-la. A despeito das questões religiosas implicadas, resiste nesse fato, como bem diz Pelbart, uma percepção primordial do corpo como agente político do esforço máximo, o de permanecer vivo.
Digo "vivo" não apenas em suas funções biológicas básicas, digo vivo, como esforço permanente de não permanecer estático, de não entregar o discurso apenas a palavra e deixar que morram as ações nas vielas, de não poetizar uma violência para aceitar digerí-la mais saborosa, o esforço político máximo de resistir com o corpo, com a ação do corpo, com o caroço do corpo.

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