Dia 2
“Me fiz
poeta
Porque à
minha volta
Na humana
idéia de um deus que não conheço
A ti, morte,
minha irmã,
Te vejo”.
(Hilda Hilst. Da morte.
Odes mínimas, p. 87)
O
segundo dia na Casa foi o nosso primeiro dia de trabalho prático, uma vez que
no primeiro dia reunimos ideias e acessamos referências, agora era a hora de
trabalhar com o espaço. Mesmo com a demora do sol conseguimos aproveitar a luz
para um primeiro trabalho fotográfico que envolvia uma simbiose com a vegetação
encontrada.
Enquanto
eu trabalhava com folhas secas e outros materiais naturais criando imagens
entre eles e meu cabelo, André partiu da mesma proposta simbiótica tendo como
ponto de partida sua boca. Pensando essa imersão como algo também grotesco
gerando novas criaturas diante da junção destes elementos que encontramos no espaço.
No
trabalho com as imagens no espaço foi que senti pela primeira vez uma maior
proximidade com a Casa, não como lugar, mas como conjunto flutuante de memórias
que se instauram por onde passamos. A proximidade com a terra e com as raízes
das plantas que se confundiam com as raízes dos cabelos ou mesmo com as raízes
da palavra falada a boca, foi que me deram esta sensação de me tornar parte do
espaço.
A Casa
em si ainda tem para mim uma atmosfera bastante temporal, no sentido de que ao
estar dentro dela me sinto localizada em outro espaço/tempo, aquele de Hilda
que me faz pensar que a qualquer momento posso me deparar com ela em seu quarto
ou biblioteca escrevendo ou cuidando de seus cães.
Para os
próximos dias as possibilidades de trabalho apenas aumentam e a vontade também.
Pensar este sagrado, este Deus das obras de Hilda no espaço que ela criou para
que esta ideia nascesse nos traz uma responsabilidade grande, uma sensação de
nulidade diante da própria Hilda que para nós se tornou uma espécie de ser
sagrado que habita este espaço atmosférico.
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