DIA 3
Vê, apalpa. A fronte. Chega até
o osso. Depois a matéria quente, o vivo. Pega os instrumentos, a faca, e abre.
(Hilda Hilst, Floema).
A chuva cai, e a luz se torna escassa. Hoje, entre
leituras de A Negação da Morte de
Ernest Becker e de Fluxo-Floema de
Hilda, como não poderia deixar de ser, ficamos encarando o céu, esperando o sol
para darmos continuidade ao nosso trabalho entre a foto, o vídeo e a
performance.
Retomando todos os nomes que Hilda atribuiu a Deus em
sua obra, continuamos no acionamento das imagens que propusemos para pensá-los.
Sagrado como hierofania, como propõe Mircea Eliade, manifestação de um espaço a
parte de compreensão nos objetos e formas do mundo “natural”.
A percepção desse Deus, abandono-criação,
gozo-proibição, vida-finitude, amor-castração, com o qual Hilda batalha
bravamente em sua literatura, e que já atordoara a outros grandes nomes como Schopenhauer,
Nietzsche, Kafka e Beckett, opera com a dúvida e busca da carne desse ser-mito
presente em tantas culturas e apoderador de tantas forças. É um Deus
morto-vivo, fantasmático e suspeitosamente inexistente esse que por tantos
nomes Hilst chamou.
Olhar para esses tantos deuses é de certa forma pensar
naquilo que diz Becker sobre a individualidade
dentro da finitude, pensar em como o corpo e a vida são estranhas e
falíveis. Mas com Hilda e Nietzsche como co-pilotos, é também pensar que é
nesse espaço que está toda a potência do humano, do profano, para ser a própria
medida da experiência de si.
Cara Cavada, Grande Obscuro, Grande Corruptível, Lúteo
Rajado, Soberano, Ominoso, Porco-menino, Grande Perseguido e Cara Obscura foram
trabalhados hoje nos canis, porta de entrada e jardim frontal e lateral da Casa
do Sol. Cada imagem é um modus vivendi,
um fragmento descolado desses deuses que respiram nas palavras de Hilda, e que
com nossas pétalas de carne buscamos (per)formar.
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