Dia 7
“Mas como a
memória, por mais gosto que tivesse em reproduzi-las, não conseguisse pôr em
nenhuma dessas pequenas gravuras aquilo que eu há muito havia perdido, o
sentimento que nos faz não considerar uma coisa como um espetáculo, mas a
julgá-la um ser sem equivalente”
(Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido – Vol. 1: No
Caminho de Swann)
Um dia para colocar no lugar aquilo que restava por fazer,
para olhar aquilo que já havia sido feito. Neste penúltimo dia editamos o vídeo
de Derrelição, que realizamos com
base na obra A Obscena Senhora D. de
Hilda Hilst. Movimentos de solidão, espera e apagamento circundam a casa sem teto
e porta, apenas com janela, como uma moldura sem pontes de tela ao centro que a
interligue, apenas um vazio si-mesmo que se expande e se contém, até não ser
mais.
Encerramos
leituras e catalogamos a produção que realizamos entre três séries de fotografias,
com aproximadamente mil fotografias feitas, vinte e sete deuses pesquisados e
(per)formados, e três vídeos captados, ocupa agora uma fatia generosa de espaço
virtual na memória de nossas máquinas de trabalho.
E que espaço
esses materiais ocupam em nossos corpos? As intensidades não são da ordem da
massa e do peso, são da ordem da experiência sensível, de um entre que é tão somente passagem e
memória incorporada, e cujas medidas são sempre inequivocamente incertas e os
encaminhamentos imprevisíveis. Todavia, para falar menos da reflexão e mais do
que agora fica no corpo, uma sensação de ação realizada, de encontro com linhas
de força preciosas, e de um espaço (a Casa do Sol) incalculavelmente preenchido
com possibilidades de criação e beleza.
No final da
tarde realizamos ainda a documentação em foto e vídeo de mais uma ação, Siluetas para Ana Mendieta, e mais uma
vez passeamos entre os sons das cigarras, corujas, cães e folhas secas,
inventando outros corpos, outras vias de passagem por estes nossos corpos,
outros movimentos contra o tempo que se esgota.
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