sábado, 10 de dezembro de 2011

Arte-Praia - Primeiro Dia


  Era uma ansiedade enorme por ver essa ação acontecer, há muito tempo eu não me colocava numa situação como esta de contato direto com os viventes e de total imprevisibilidade das reações. Estar num espaço do qual, a qualquer momento as pessoas poderiam me abordar, fazer perguntas, me expulsar, foi como, novamente me jogar no abismo do mundo real, longe das protetoras paredes das salas de ensaio. Construir a ação junto aos participantes, a cada questionamento, a cada reação é sempre uma experiência grandiosa para os envolvidos.
  Demos início à ação. O simples passar pelas barracas com meu anúncio "Compre seu Espaço na Praia por apenas R$0,50" já causava um alvoroço imenso entre as pessoas, muitos olhavam confusos, outros me questionavam a respeito mas, pouquíssimos, queriam de fato comprar. E olhem que eu estava usando de vários argumentos do tipo: "Com certeza é mais barato do que o que você pagou para sentar nesta cadeira!". Todos concordavam com essa máxima. Mas as respostas eram variáveis: "Eu não queria me sujar mais deitando na areia" ou "Na volta eu compro!". Há também aqueles que diziam: "Gostei muito do seu trabalho, boa sorte!" ou "Você é muito simpática, mas eu não quero não!". Muitos chegaram a me oferecer dinheiro, mesmo que eles não comprassem, só por terem achado a iniciativa de vender espaços na praia interessante ou por que me achavam simpática. Eu não recebi, ao contrário, ainda tentava usar esse fato como uma desculpa para que eles comprassem, em vão.

   Realizei três "vendas", que me renderam a praia inteira falando a respeito, era isso que eu queria. Foi um espaço maravilhoso de troca com os viventes, com os que compraram, com os que não compraram, com os que disseram que comprariam no domingo, com os outros vendedores e com os que apenas ouviram meu anúncio e se questionaram por alguns momentos. Havia, inclusive, um grupo de freiras na praia que, praticamente me fuzilavam com os olhos, talvez vender a praia não seja "coisa de Deus", quem sabe?
   Ao fim da nossa ação voltamos ao nosso ponto inicial, um lugar que vende açaí, bem no finalzinho da praia. Ao chegar fui conversar com a dona do estabelecimento para saber se era possível que guardássemos os materiais por lá durante a ação. Depois de nos questionar sobre em que consistia essa tal ação de que falávamos, ela nos contou os fatos que podem ter gerado toda essa política dos barraqueiros. 
   Aparentemente, os "proto-barraqueiros" que movimentavam esses espaços anteriormente foram retirados de suas bancas de vende pela prefeitura com a garantia de que voltariam para lojas mais bem organizadas, fato que não aconteceu. Isso trouxe uma repercussão imensa para os moradores da Vila de Ponta Negra que acabaram por vender sues terrenos por preços baixíssimos, para os pescadores que forneciam peixes para essas barracas que, sem emprego, se viram numa posição de miséria tendo, suas esposas, que trabalhar para sustentar a casa, coisa que a visão machista da época não suportava.
   Ela nos falou ainda que há muitas questões que não são conhecidas por nós que consumimos e alugamos essas cadeiras nas praias, que devem ser consideradas nesse sentido. São questões que eu, assim como a maioria da população, desconhecia e que de fato são importantíssimas para compreender essas políticas. Creio que cabe, inclusive um estudo mais aprofundado a esse respeito para que estes fatos cheguem à população.
  Com certeza, saber dessa história me faz repensar a ação e a repercussão que ela pode ter nos participantes, é um pensamento que estarei amadurecendo junto com a ação...
  Para o segundo dia, acho importante pensar outras formas de persuadir os "compradores potenciais", quem sabe aumentar as vendas. Sei, ao menos que, em grande parte, meu objetivo está sendo alcançado. Agradeço muito aos que estiveram comigo neste primeiro e importantíssimo dia: André Bezerra, Arthur Souza, Yuri Kotke e Maurício Cuca. Vamos ao nosso segundo dia de trabalho!
Em breve postarei algumas fotos.

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