segunda-feira, 14 de abril de 2014

RESIDÊNCIA INSTITUTO HILDA HILST - DIÁRIO DE BORDO


Dia 2
“Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana idéia de um deus que não conheço
A ti, morte, minha irmã,
Te vejo”.
(Hilda Hilst. Da morte. Odes mínimas, p. 87)


O segundo dia na Casa foi o nosso primeiro dia de trabalho prático, uma vez que no primeiro dia reunimos ideias e acessamos referências, agora era a hora de trabalhar com o espaço. Mesmo com a demora do sol conseguimos aproveitar a luz para um primeiro trabalho fotográfico que envolvia uma simbiose com a vegetação encontrada.
Enquanto eu trabalhava com folhas secas e outros materiais naturais criando imagens entre eles e meu cabelo, André partiu da mesma proposta simbiótica tendo como ponto de partida sua boca. Pensando essa imersão como algo também grotesco gerando novas criaturas diante da junção destes elementos que encontramos no espaço.
No trabalho com as imagens no espaço foi que senti pela primeira vez uma maior proximidade com a Casa, não como lugar, mas como conjunto flutuante de memórias que se instauram por onde passamos. A proximidade com a terra e com as raízes das plantas que se confundiam com as raízes dos cabelos ou mesmo com as raízes da palavra falada a boca, foi que me deram esta sensação de me tornar parte do espaço.
A Casa em si ainda tem para mim uma atmosfera bastante temporal, no sentido de que ao estar dentro dela me sinto localizada em outro espaço/tempo, aquele de Hilda que me faz pensar que a qualquer momento posso me deparar com ela em seu quarto ou biblioteca escrevendo ou cuidando de seus cães.

Para os próximos dias as possibilidades de trabalho apenas aumentam e a vontade também. Pensar este sagrado, este Deus das obras de Hilda no espaço que ela criou para que esta ideia nascesse nos traz uma responsabilidade grande, uma sensação de nulidade diante da própria Hilda que para nós se tornou uma espécie de ser sagrado que habita este espaço atmosférico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário