terça-feira, 15 de abril de 2014

RESIDÊNCIA NO INSTITUTO HILDA HILST - DIÁRIO DE BORDO



DIA 3


Vê, apalpa. A fronte. Chega até o osso. Depois a matéria quente, o vivo. Pega os instrumentos, a faca, e abre.
(Hilda Hilst, Floema).

A chuva cai, e a luz se torna escassa. Hoje, entre leituras de A Negação da Morte de Ernest Becker e de Fluxo-Floema de Hilda, como não poderia deixar de ser, ficamos encarando o céu, esperando o sol para darmos continuidade ao nosso trabalho entre a foto, o vídeo e a performance.
Retomando todos os nomes que Hilda atribuiu a Deus em sua obra, continuamos no acionamento das imagens que propusemos para pensá-los. Sagrado como hierofania, como propõe Mircea Eliade, manifestação de um espaço a parte de compreensão nos objetos e formas do mundo “natural”.
A percepção desse Deus, abandono-criação, gozo-proibição, vida-finitude, amor-castração, com o qual Hilda batalha bravamente em sua literatura, e que já atordoara a outros grandes nomes como Schopenhauer, Nietzsche, Kafka e Beckett, opera com a dúvida e busca da carne desse ser-mito presente em tantas culturas e apoderador de tantas forças. É um Deus morto-vivo, fantasmático e suspeitosamente inexistente esse que por tantos nomes Hilst chamou.
Olhar para esses tantos deuses é de certa forma pensar naquilo que diz Becker sobre a individualidade dentro da finitude, pensar em como o corpo e a vida são estranhas e falíveis. Mas com Hilda e Nietzsche como co-pilotos, é também pensar que é nesse espaço que está toda a potência do humano, do profano, para ser a própria medida da experiência de si.

Cara Cavada, Grande Obscuro, Grande Corruptível, Lúteo Rajado, Soberano, Ominoso, Porco-menino, Grande Perseguido e Cara Obscura foram trabalhados hoje nos canis, porta de entrada e jardim frontal e lateral da Casa do Sol. Cada imagem é um modus vivendi, um fragmento descolado desses deuses que respiram nas palavras de Hilda, e que com nossas pétalas de carne buscamos (per)formar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário